Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono e sua Relação com Doenças Cardiovasculares

A Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS) é um distúrbio respiratório caracterizado por episódios repetidos de obstrução parcial ou total das vias aéreas durante o sono. Essa condição está fortemente associada a uma série de complicações cardiovasculares, incluindo hipertensão arterial, arritmias cardíacas, insuficiência cardíaca e maior risco de eventos cardiovasculares graves, como infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral (AVC).

Mecanismo da Apneia Obstrutiva do Sono

Durante o sono, a musculatura da garganta relaxa, podendo levar ao colapso da via aérea superior e à interrupção do fluxo de ar. Essa obstrução resulta em hipoxemia (redução dos níveis de oxigênio no sangue) e hipercapnia (acúmulo de dióxido de carbono), desencadeando micro despertares frequentes para restaurar a respiração. Esse ciclo de pausas respiratórias pode ocorrer dezenas ou até centenas de vezes por noite, fragmentando o sono e causando repercussões sistêmicas.

 

Sinais e Sintomas da Apneia Obstrutiva do Sono

Os sintomas mais comuns da SAOS incluem:

Durante o sono:

  • Ronco alto e persistente;

  • Pausas respiratórias observadas por terceiros;

  • Engasgos ou sufocamento noturno;

  • Sono agitado e despertares frequentes.

Durante o dia:

  • Sonolência excessiva diurna;

  • Dificuldade de concentração e lapsos de memória;

  • Irritabilidade e alterações de humor;

  • Cefaleia matinal;

  • Sensação de sono não reparador.


Relação da Apneia Obstrutiva do Sono com Doenças Cardiovasculares

A SAOS não tratada está intimamente relacionada a diversas complicações cardiovasculares devido à:

  • Ativação repetida do sistema nervoso simpático;

  • Estresse oxidativo;

  • Inflamação sistêmica.

1. Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS)

Pacientes com SAOS têm maior risco de desenvolver hipertensão arterial resistente, uma forma de pressão alta que não responde bem ao tratamento convencional. As flutuações repetidas na oxigenação do sangue e os microdespertares ativam o sistema nervoso simpático, resultando em vasoconstrição e aumento persistente da pressão arterial.


2. Arritmias Cardíacas

A apneia do sono aumenta o risco de arritmias como:

  • Bradicardia sinusal – devido ao predomínio da atividade vagal durante os episódios de apneia.

  • Fibrilação atrial – a hipoxemia e o estresse inflamatório favorecem a desorganização elétrica dos átrios.

  • Bloqueios atrioventriculares – especialmente durante a noite, levando a pausas cardíacas prolongadas.


3. Insuficiência Cardíaca

A SAOS pode levar à disfunção do ventrículo esquerdo, aumentando o risco de insuficiência cardíaca, especialmente na sua forma com fração de ejeção preservada. Além disso, a sobrecarga intermitente imposta ao coração pode resultar em hipertrofia ventricular esquerda.


4. Doença Coronariana e Infarto do Miocárdio

A hipóxia intermitente e a inflamação sistêmica contribuem para a progressão da aterosclerose, aumentando a chance de eventos coronarianos agudos, como angina instável e infarto do miocárdio.


5. Acidente Vascular Cerebral (AVC)

A apneia do sono está associada a um risco aumentado de AVC isquêmico e hemorrágico. As flutuações na pressão arterial e a disfunção endotelial crônica favorecem a formação de placas ateroscleróticas e trombos.


Diagnóstico e Tratamento

O diagnóstico da SAOS é feito por meio da polissonografia, um exame que avalia a atividade respiratória e a qualidade do sono.

O tratamento pode incluir:

  • Modificações no estilo de vida: perda de peso, exercícios físicos e evitar álcool e sedativos antes de dormir.

  • Uso de CPAP (Continuous Positive Airway Pressure): dispositivo que mantém as vias aéreas abertas durante o sono, reduzindo eventos de apneia e melhorando a oxigenação.

  • Cirurgia ou dispositivos orais: em casos selecionados, podem ser indicadas correções anatômicas ou dispositivos que avancem a mandíbula para melhorar o fluxo aéreo.

Conclusão

A Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono é um distúrbio subestimado, mas com impacto significativo na saúde cardiovascular. O reconhecimento precoce e o tratamento adequado são essenciais para reduzir o risco de complicações graves, melhorar a qualidade de vida e prolongar a sobrevida dos pacientes.

 

Referências Bibliográficas

Braunwald E. Braunwald’s Heart Disease: A Textbook of Cardiovascular Medicine. 12th ed. Elsevier; 2022.

Somers VK, White DP, Amin R, et al. Sleep Apnea and Cardiovascular Disease: An American Heart Association/American College of Cardiology Foundation Scientific Statement. Circulation. 2008.

Lévy P, Kohler M, McNicholas WT, et al. Obstructive Sleep Apnea Syndrome. Nat Rev Dis Primers. 2015.

American Academy of Sleep Medicine. Clinical Practice Guideline for the Treatment of Obstructive Sleep Apnea and Snoring With Oral Appliance Therapy. J Clin Sleep Med. 2015.

European Society of Cardiology. Sleep-Disordered Breathing and Cardiovascular Disease: A Position Paper from the ESC Council on Hypertension and the European Respiratory Society. Eur Heart J. 2021.

 

Se você apresenta sintomas de apneia do sono, procure um médico especialista para uma avaliação detalhada. O tratamento pode fazer uma grande diferença na sua saúde cardiovascular e qualidade de vida.

Dr. Conrado Balbo

Com anos de experiência, o Dr. Conrado se destaca por seu compromisso em oferecer tratamentos modernos e eficazes, sempre com foco na prevenção e na reabilitação cardíaca. 

Publicações Recentes

© 2024 Desenvolvido por Wiaweb Webmasters